terça-feira, junho 17, 2014

Nota (singela) de agradecimento

Nada, não. Só queria expressar minha gratidão com quem sempre volta. Por mais que este blog possa estar às traças, sem nada que lembre os áureos tempos em que isso recebia mais publicações do que timeline de drama queen,  tem gente que nunca deixa de visitar, conferir se estou assim tão calada mesmo. Alguns inclusive recomendam a leitura, por mais que critiquem. Fico envaidecida por ser guilty pleasure. Mais uma vez, obrigada pela preferência.

sexta-feira, novembro 29, 2013

Na ventura, e na desgraça

Esse negócio de rede social tem umas coisas curiosas, uns mecanismos engraçados. A gente têm todos os amigos a dois cliques de distância e isso faz parecer que eles estão na nossa vida de verdade, ou que estão próximos. Vemos quando eles vão à praia, ficamos ligados das reclamações sobre trânsito, compras de natal e serviços de TV por assinatura, vemos qual foi o lugar legal onde jantaram e pensamos que eles estão de fato por perto. E o pior é que compramos essa mentira. Acessamos todos os dias aquele portalzeco, vagamos pela timeline, curtimos, bufamos, ignoramos, compartilhamos e cremos mesmo que "acompanhamos" as pessoas. A tragédia cotidiana é essa que nos faz mover uma engrenagem imensa sem nem ao menos sabermos para quê ou para onde, fazendo com que esqueçamos de sentar no chão por 10 minutos ao dia para receber uma lambida com um abanar sincero de cauda do nosso cachorro; passamos meses sem rirmos até doer entre bons amigos, sem olhar nos olhos daqueles que se sentam à mesa com a gente, sem dar um mergulho, seja no mar, numa história ou numa aventura nova. Achamos que teremos sempre tempo no futuro para aquilo que não consideramos urgente agora. Urgência e importância se subvertem, e assim as pessoas que acompanhamos se transformam na parede com porta-retratos, tão presente em nossas vidas quanto a viagem à Europa há 15 anos. Hoje estou revoltada com isso. Acreditar nesta falácia me custou caro. Soube que um amigo faleceu recentemente. Fomos colegas na faculdade de Letras, ele era ator e dava aula para crianças, e seus olhos sempre brihavam quando falava de seus alunos. Era um cara esforçado, inteligente e alegre, apesar de tanta coisa ruim que aconteceu na sua vida. Há uns meses, ele me veio à memória, bateram saudades, quis revê-lo, saber como estava, mas eu adiei escrever, ligar, chamar para sair.
A notícia me entristeceu, não só pelo óbvio, mas porque havia dentro de mim um desejo muito forte de que ele fosse feliz, como quem respira fundo e tranqüilo, e não como alguém que cerra os punhos para mostrar ao mundo que não tem medo. Mesmo sabendo que a vida não tem respeito por qualquer axioma, eu queria que ele demonstrasse aquela regra que gostamos de pensar que existe de que a felicidade e o sucesso são conquistados com sofrimento e pesares. E confesso que no momento, esse é o tipo de coisa que eu tenho pra jogar na cara da dona Sorte, com o dedo em riste, para que ela ouvisse poucas e boas; ela tinha essa dívida com ele, e não, não é decente não honrá-la.
E aí, na minha vez de ouvir as broncas de cabeça baixa, eu não devia acreditar nas mentiras enlatadas que ninguém conta mas que todo mundo compra. Esta falácia me levou embora a chance de cumprir meu papel de amiga, de estar ao lado dele, de reconfortá-lo, de ratificar o que havia lhe dito da outra vez em que fui visitá-lo no hospital anos atrás. E se eu não ratifiquei, não cumpri com o que disse, eu não estava lá.
Depois de quase 1 mês de tratamento intensivo, ele acata a força dos fatos e sai de cena. Causa mortis: insuficiência cardíaca. O órgão havia inchado demais e não conseguia mais bater. Olhando para a pessoa que era, penso que não havia outro jeito dele sair desta vida senão com o coração grande demais. Descanse em paz, meu amigo.

Como sucede à nau no mar, sucede 
Aos homens na ventura, e na desgraça 
Basta ao feliz não ter total demência 
Mas quem de venturoso a triste passa 
Deve entregar o leme do discurso 
Nas mãos da sã prudência.    

Todo o Céu se cobriu, os raios chovem 
E esta alma, em tanta pena consternada 
Nem sabe aonde possa achar conforto 
Ah! não, não tardes, vem, Marília amada, 
Toma o leme da nau, mareia o pano 
Vai-a salvar no porto.   
(Marília de Dirceu, Parte II, Lira V, Tomás Antônio Gonzaga)

sábado, setembro 14, 2013

Essa é clássica

Telefone toca, ele atende. 
- Fala, véio. 
- Alou?
- Fala, véio! Sou eu. 
- Olha, não tem ninguém aqui. E outra, velho é seu pai!

Eu escuto isso desde criança, e talvez por isso eu ainda ria do mesmo jeito. 

terça-feira, agosto 06, 2013

Papai sabe tudo

Então eu precisava pagar uma conta, só que não estou conseguindo resolver pela internet com o banco e precisaria pegar um avião para poder ir a um caixa eletrônico. E então escrevo pro velho, pedindo pra ele resolver pra mim. Eis que ele responde:

Calote. S. M. Dívida não paga e/ou contraída sem intenção de pagamento.
Possível origem do frances: culotte ou do proprio portugues: calo. De
todo modo, significa a mesma coisa: não pagar uma dívida. Se a expressão
veio do frances é porque, no dominó, culotte designa as pedras que os
parceiros não puderam colocar em jogo. O mais provável é que tenha vindo
do calo, fatia de queijo ou de melão que o vendedor ofertava nas feiras
ao comprador, para que este experimentasse o sabor. Se um aproveitador,
zombando do vendedor, comia e não pagava, dava calote. Calotear. V. t.,
não pagar o que deve.

Abusada,Adj, f. Aquela que passa a dívida para o pai.

Pai maravilhoso,adj. raro. Aquele que paga os calotes da filha.


Ae...ae. ae.


Fantástico...

domingo, julho 21, 2013

Filme-crítica: Homem de Aço

Novaiorquinos ficaram felizes de serem poupados desta vez.


Não, não posso ir embora sem falar mais sobre o que vi. Como filme, eu confesso que esperava mais, algo que acompanhasse a onda criada pela trilogia recente de Batman, mas não, filme médio, sem surpresas. Tem só aquele cara que não me decepciona nunca,  Hans Zimmer apareceu e criou uns climas ótimos, como sempre, e como só ele consegue. 
Engraçado que a princípio, eu estava quase revoltada, achando que estava pra ver o Superman mais feio da minha vida. 
Entendam, meu primeiro namorado foi Christopher Reeve. Mesmo nova, era difícil resistir àquele homem que cabia nos meus fetiches mais primordiais, de olhos da cor do mar da Grécia, forte, alto, se despindo pela cidade, pronto para me levar pelos ares, com um tema do John Williams só pra ele! Nós namoramos longamente, fizemos planos, eu era jovem e ele inesquecível. E não me venham com o papo de que era alucinação infantil minha. Ele sempre tinha olhares penetrantes pra mim. Ah, como esquecer?
Você podem imaginar como eu fiquei quando ele teve o acidente que o condenou à cadeira de rodas. Foi um golpe difícil. O acidente em si não abalou a pessoa que ele foi pra mim, afinal, como sua namorada, eu sabia das sua fraqueza. Mas foi triste mesmo; não é por que é ex-namorado que deixamos de nos importar ou até mesmo se divertir quando algo de ruim acontece. Bom, com alguns sim, mas não era o caso dele.
O tempo foi passando, e quando eu era adolescente, vi outro homem portar o Poderoso S no peito.
Sim, ele não era não bonito, eu não nadava em seus olhos e ele nem me fazia ouvir fanfarras. Mas nossos encontros eram semanais, então ele me ganhou na insistência, além do fato de que eu ainda era órfã daquele amor dos anos anteriores.  Dean Cain fez a série da TV por 4 anos, e neste tempo sua beleza exótica me conquistou. Ainda que eu tentasse ser imune aos seus encantos, eu me derretia completamente quando ele sorria.
A vida seguiu, nossos caminhos se separaram, a série acabou.
Há poucos anos, em 2006, teve um outro filme, Superman, o Retorno. Não vi. Com tantas coisas no meu passado, o mero título era doloroso pra mim; posso até dizer ofensivo. Então ele nem conta no meu universo.
Então agora, mais madura, depois de tantas histórias novas na minha vida, mais inteira, eu me vi em paz para ir ao cinema.
Eu achava mesmo que ia ser completamente imune a um novo uniforme, tem até textura, a tipografia está refeita, a nossa música já não toca mais.
Mas ainda que o Henry Cavill não tivesse aqueles olhos lindos, aqueles ombros largos, aquele forte e másculo, não ficasse tão bem de uniforme, eu seria imune a alguém que tem seu próprio tema do Hans Zimmer ao fundo? É falar demais no meu coração!

quarta-feira, julho 17, 2013

Sobre era glacial e papo-calcinha

Homens não conversam sobre seus problemas. Discorda de mim? De mim?! Não, não de mim. Quem falou isso foi o Manny, em Era do Gelo III, quando sua mulher o manda ir conversar com seu amigo felino. Isso mesmo, palavras dele, ele foi taxativo e ainda falou mais: homens só se dão aquele soquinho valeu-champs no ombro, e que isso, estúpido só para as mulheres, equivale a seis meses de terapia. Você pode achar que não é verdade, mas quando uma criatura muito mais velha do que eu, você e até do que o Niemeyer diz alguma coisa, é quase científico. Então Manny tem total razão, já sabemos, seis meses de terapia. Mas eu ainda posso ao menos achar que se trata de uma terapia ruim, daquelas que seu psicólogo combina um bigode descolorido com um coletinho por baixo do terno só para parecer mais confiável enquanto faz rabiscos no papel ao som de você com seus problemas.
Curioso é que estou tentado escrever este post há meses, talvez há mais tempo do que um ano, já. Só este parágrafo aí acima está pronto há mais de uma estação. Eu tenho um processo curioso na minha escrita. Vou engolindo idéias, repensando, reavaliando um monte de coisa, testando coisas que nem são teorias, até que em algum momento, depois de uma longa gestação, nasce algum troço aí com serifas e vírgulas, sempre muitas vírgulas. Com este aqui não foi muito diferente, mas preciso dizer que desta vez, fiquei grávida por muito tempo; e posso dizer que estou em trabalho de parto há mais horas do que o costume. Você, aí do outro ladinho do espelho, pode se perguntar o que há de tão difícil em escrever sobre isso. E eu diria que a sua resposta, por si só, é difícil de dar. Às vezes o texto simplesmente não sai, ainda não encontrou caminho pelo labirinto dos meus dedos, às vezes as teclas do computador são indóceis e se recusam à ordem, fazem as do piano parecerem crianças japonesas indo num passeio de escola. Outras vezes tem um fator intuição, sexto sentido, sensor-aranha, parece que eu estava esperando alguma coisa nova, algum evento inusitado, alguma leitura inesperada aparecer antes que um ponto final fosse dado. E acho que o caso agora vem a ser cada uma dessas possibilidades. Ontem, li isso aqui. O mamute não só acertou como foi endossado pelas práticas modernas. É tipo um Confúcio com marfim e material publicitário.
O que eu venho tentando dizer é que homens vão falar de política, futebol, F1, UFC, carros, sistemas operacionais, cervejas, música, suplementação esportiva, defeitos de suas companheiras, viagens, restaurantes, baladas, ferramentas, cualqué parada, e não necessariamente nesta ordem, mas não vão falar como se sentem, como se sentiram, não importa sobre o que seja. E isto é algo diametralmente oposto nas amizades entre mulheres. Começamos sempre com um "e aí, como você tá? que você conta? como foi lá, gostou? e ele ligou? e o trabalho? clima melhor? e você tá aguentando bem tudo isso?"; e existe uma mágica aí, a amiga vai falar, e a outra amiga vai ouvir, e vai dar apoio, e vai ser compreensiva, e vai se alegrar com a alegria da outra, bem como se entristecer com a mágoa que a outra sofre, e oferecer uma palavra, um alento, para mostrar que nem tudo está perdido, para dar coragem, ânimo ou só um bom abraço.  E pra mim eis o que há de mais bonito.
Em geral, homens se transformam em amigos muito fácil, compartilham alguns gostos, algumas atividades e a amizade se estabelece. Mulheres, por outro lado, demoram um pouco mais, se sentem, como um terreno completamente novo sob a penumbra, se compreendem, e progressivamente vão desnudando suas almas uma à outra, até que a amizade vira um terreno sedimentado, firme, onde sabem exatamente o que podem construir e plantar. Meu pai teria boas metáforas para colocar aqui. Eu lembro de uma fala em O tigre e o dragão em que uma conta a outra um ponto delicadíssimo de sua história, e uma delas fala "agora que compartilhamos nossas histórias, somos irmãs".
Recentemente os homens têm descoberto o caminho para o psicólogo, como forma de buscar auxílio em seus problemas; conheço alguns que a mera idéia de ligar para um terapeuta era mais assustadora do que cair na malha fina da Receita. Mulheres, por outro lado, são mais acostumadas com a possibilidade de psicoterapia, afinal sempre fazem isso com suas amigas, chegam lá, sentam e falam tudo. Ter alguém com mais formação e experiência nisso chega a parecer sedutor.
O que me chamou atenção no texto (se alguém passou reto pelo link acima pode achá-lo aqui de novo) é o fato de um profissional da área - um homem - falar desta questão e ainda conseguir delinear muito bem o que ele vem testemunhando. E isto acontece como resultado deste isolamento que homens passam socialmente. Esta solidão que o texto diz, ao meu ver, vem do fato de homens não serem encorajados e não encontrarem espaço para nomear o que os incomoda ou o que querem de verdade. Quando eu digo de verdade, me refiro aos caminhos, não aos resultados. Família, sucesso e conta bancária gorda são fins; o caminho para chegar até eles, no entanto, pode ser muito variado. Pode ser um casamento feliz ou uma relação desequilibrada e disfuncional; um trabalho desafiador e estimulante ou apenas uma sucessão de forças das correntezas sem que se termine onde gostaria de verdade. Hoje temos mais opções do que nunca, e até mesmo uma sociedade que começa a considerar melhor este universo e não mais taxar tudo isso como desvio de conduta. Lembram que havia uma época em que ser desquitado era vergonhoso ou que era melhor ter uma filha na zona do que no palco?
O senso comum adora dizer que mulheres não sabem o que querem enquanto homens sabem muito bem. Será mesmo? Ou será que mulheres vêm progressivamente se libertando de papéis tradicionais - e aí, consequentemente, se expondo mais a dúvidas e incertezas - enquanto os homens ainda oferecem mais resistência? O texto do Frederico Mattos me chama atenção não simplesmente por estar bem escrito e embasado, mas também porque eu vi tudo isso. Cada homem que entrou na minha vida, nas mais variadas funções e relações, demonstrou este engessamento dentro de papéis tradicionais e cerceadores, e todos sofriam com isso, em maior ou em menor grau. Vejo, em geral um medo abissal de falar o que realmente os incomoda; o que reflete - ou gera? - uma falta de auto-honestidade, uma incapacidade de assumir para si mesmo de que algo vai mal; uma dificuldade imensa de encarar que algo não vai bem, que tem um nó, simples ou complexo. E aí, empurrando esta poeira toda pra baixo do tapete, o terreno vai ficando acidentado, quando tudo era para estar bem. E este "era para" sufoca e arde.
Também, sobre nós, moças, ainda incide esta sombra de culturas mais tradicionais. Ouso até dizer que em alguns momentos, isto pode ser mais nocivo para nós do que para eles, mas vamos criando nossa rede de apoio, nossos mecanismos de ajuda, nossos movimentos de libertação, vamos aprendendo a reclamar. E vejo como isto se refere à minha última postagem; será que homens são tão passíveis como as mulheres de procurar ajuda para um comportamento que está gerando problemas ou preferem simplesmente mascarar isto como algo normal e cotidiano?
Mulheres falam mais, se abrem mais, trocam informações e perspectivas, e assim conseguem ampliar sua percepção de si e do mundo; terminam assim tirando seus medos do armário e vendo o quanto não passam de uma sombra feita pelo poste da rua. Ou não, às vezes o monstro do armário era um baratão voador, seis patas, duas antenas e muita má fé. Mas até pra isso tem solução, chinelo, inseticida, dedetiação.
E se alguém me perguntar, é exatamente por limparmos nossos armários cotidianamente que sofremos menos do coração, de estresse e vivemos mais.



Através deste texto, quero declarar meu amor às minhas amigas, e dizer que sem a amizade delas tudo seria mais difícil, tanto minhas derrotas quanto meus sucessos.  


sábado, julho 13, 2013

Sobre pessoas que não sabem amar

Fui ontem à uma consulta médica. Aquelas coisas, entrei, cumprimentei, me identifiquei e sentei. E aí vejo na sala de espera um pequena pilha de panfletos rosinha. Era um grupo de apoio para ajudar pessoas a largarem um vício. Eu preciso admitir que tenho um certo fascínio por grupos de apoio. Talvez isso tenha aflorado de verdade depois de ter visto Clube da Luta, mas isso tudo vem de antes. Em primeiro lugar, para mim ao menos, grupos de apoio tem aquele magnetismo de histórias policiais. É o tipo de lugar que todos querem nunca precisar ir, mas este universo proibitivo, naturalmente, exerce fascínio. Sim, eu sei, besteira minha, mas fazeuquê? Entretanto, o que mais me cutuca é a possibilidade de uma conversa franca. Quem vai falar, está ali pra deixar suas máscaras caírem no chão, assumir seus erros e olhar sua trajetória com coragem e dignidade, apesar de todos os erros; e quem está sentado a volta vai simples e realmente escutar. Pra mim, mora exatamente aí o mecanismo do apoio, quem fala é honesto, quem ouve é aberto, e ninguém está lá para julgar ou para ajudar exclusivamente ao outro no mais puro ato filantrópico e desprendido. Todos dão e recebem, ajudar ao outro significa me ajudar. Ah, sim, aí tinha esse panfleto do vício, né? Este foi o fato que mais me inquietou. Se intitulava Mulheres que amam demais anônimas, ou MADA. É o tipo de coisa que ao bater o olho, uma pequena turbulência interna acontece; e isso pouco importa de qual sexo você seja. Algumas coisas se chocam, algumas perguntas se formam, algumas certezas caem e - invariavelmente - por um minuto você se pergunta se você não precisaria daquilo. Justo você, forte, absoluto, seguro, com auto-estima, que conseguiu construir uma vida sem vícios. A gente ouve aquele "será mesmo?", nossa definição de vício vira um cogumelo de poeira, que explode, expande, e começa a cobrir tudo de uma camada fina que você não queria que estivesse ali. Estiquei uma mão, abri o panfleto e li ele todinho até o fim. Numa era de smartphones, isso beira o elogio. Passei pelo questionário, com perguntas que precisam de ao menos 5 segundos antes de receberem uma resposta verdadeira. Eram sobre a frequência de ligações durante um dia, da desconfiança de fidelidade, da insistência em agradar sempre os outros, dos cuidados excessivos, de controle excessivo numa relação e a necessidade de assumir responsabilidades demais. Uma coisa que fica delineada é a possível tendência de não estar em contato com a realidade, seja através de discursos, atitudes e sentimentos. Muito pra se pensar, viu? Muitas referências se cruzam na cabeça diante desta leitura; personagens de histórias clássicas que são pura poesia, letras de música, jargões que mulheres que amamos em algum momento nos disseram diante de alguma queixa que fizemos, queixas que ouvimos de amigos e outras pessoas próximas de seus relacionamentos e o que esperavam das mulheres que estavam com eles. Muita turbulência concentrada em tão pouco tempo, em uma pessoa tão pequena, numa mera sexta de manhã. Troquei algumas palavras com a secretária a minha frente sobre minha leitura, ela contou como aquela pilha havia ido parar ali e da reação das pessoas, "sempre pegam um, às vezes quem você menos espera". Trocamos um silêncio e eu disse em tom de brincadeira "sabe se tem algum grupo de apoio para homens?". Ela riu, "devia, né"? Só o tom era de brincadeira. A princípio me veio à cabeça o oposto simétrico, homens que amam de menos, que provocam a desconfiança na parceira ou concretizam a infidelidade, que não querem nunca agradar sua companheira, que não assumem responsabilidades, nem têm qualquer cuidado. E seguindo esta linha, cheguei ainda mais longe, nos homens que odeiam demais. Que cultivam raiva, ódio e ressentimento excessivo daquelas que já estiveram com eles, que difamam ou agridem verbal ou fisicamente, que precisam subjugar a qualquer preço uma mulher que cruze se caminho, que chegam às raias da loucura através de uma violência sexual ou assassinato daquela que os deixou. Infelizmente é fácil demais de se ver casos assim na mídia.
Sim, existem mulheres que precisam frear sua ânsia de serem-felizes-para-sempre como ensinado nos livros pra criança. Precisamos mesmo entender que os caminhos de uma relação - qualquer que seja - são construídos por duas pessoas e ambas têm igual parcela de participação, que fazer concessões não é engolir sapo ou se anular. E fazer um grupo de apoio para isso é ótimo, é chamar a atenção para este aspecto e jogar um pouco de razão nele.
Mas se as relações são feitas por ambos os sexos, não caberia também jogarmos um pouco de luz do outro lado? Creio que aí mora o caminho da calibragem das coisas. Se eu procurasse, seria eu capaz de encontrar um panfleto que tentasse ao menos orientar homens a quebrar seus comportamentos mais nocivos, ou simplesmente incômodos? Talvez você esteja me lendo e achando que isso é mais um daqueles manifestos de moças na casa dos 30 de saco cheio de homens. Se eu disser que não, alguém vai argumentar que minha idade não deixa mentir. Engraçado como na cabeça do povo, ter trinta e estar de saco cheio de homens andam lado a lado. Mas não, não falo isso de qualquer mágoa que eu possa ter, não; embora negar isto não me ajude. Mas oquêi, não vou ficar desenvolvendo o que eu acho. vou mudar de foco.  Curiosamente, uma das várias páginas da internet que acompanho pubicou hoje o link de um vídeo em que um comendiante no seu número de stand up fala do quanto de coragem uma mulher precisa ter para sair com um homem, já que as estatísticas dizem que a maior ameaça à elas são eles. Ri, sim, porque o cara é bom, e achei bem inquietante. Esta verdade estrapola as fronteiras das mágoas femininas. E mais, tiro o meu chapéu para como Louis CK não fez piadas que reforcem práticas machistas e depreciativas; pelo contrário, falou de algo muito sério sem fazer pouco de nada, foi muito inteligente.
E aí, voltando ao apoio a se dar às mulheres, a gente até fica com medo de se confrontar com uma questão incômoda.
Olhemos de volta para o grupo de apoio das mulheres, nos perguntamos sobre vícios e níveis de dependência, e esbarramos com uma pergunta incômoda, que dá quase medo de perguntar. Como saber se o problema está no excesso de amor ou no ser amado?


Caso alguém tenha se interessado pelo grupo, mais informações estão disponíveis clicando aqui.
Atualizado em 17/07: num dos comentário para esta postagem, foi postado o link do DASA, que apoia ambos os sexos em diferentes tipos de vício em relacionamentos. Como esse tipo de coisa precisar e merece ser divulgada, posto aqui, e agradeço ao autor do comentário pela indicação. Bom saber que iniciativas de apoio estão crescendo e se desenvolvendo!

terça-feira, junho 11, 2013

Sinopse da família

- Já ouviu falar numa série chamada The Sopranos, pai?
- Já.
- Conhece? Já viu?
- Ainda não.
- Então, to com a primeira temporada. Sei que é sobre máfia, tava numa lista como a melhor série já feita pra TV. Como está em final de temporada de todas as séries que vejo, resolvi checar.
- É, era uma família muito grande. - Parei o que estava fazendo. Ele continuou - uma família grande. - Nunca é bom quando ele repete. -  E tinham o hábito de se juntarem. - Ele começou a gesticular com as mãos, tipo ganhando tempo. Mau sinal. - Sempre juntos, nas datas importantes, comemorações. E ele se juntavam para comemorar aniversário. Sempre festas muito grandes. - Fui apertando os olhos, sabia que vinha uma pesada. - E eles acendiam velas, só que todos sopravam juntos.
- Pai, não!
- E eles ficavam lá, soprano.
- Poxa, pai!
- E daí ficou Família Soprano.


segunda-feira, junho 10, 2013

X,Y,Z

Creio que se eu pudesse escolher em qual onde-quando viver, eu optaria por um sábado no início de madrugada em um bar não badalado de uma cidade cosmopolita qualquer, com uma música ao vivo de leve, mas de alto nível. Eles não cobram entrada, tem um nome quase banal e alguns anos de funcionamento, algumas mesas altas, alguns lugares no balcão e espaço para transitar. O cardápio é bom, bem servido, mas nada de extraordinário. Ou seja, ninguém vai lá pra fazer check-in tirando onda onde vai pra se mostrar descoladão, ou postar foto do que está comendo em rede social, ou ainda porque lá é o último grito da vida noturna que saiu no guia de sexta no jornal e quer ser visto em suas roupas transadas de grife. Quem vai lá tem o único propósito de reunir alguns amigos - ou não - e tomar aquele chopp indulgente do final de semana sem ter que ficar ouvindo o que a indústria fonográfica produz de descartável.
Este seria meu espaço-tempo, com um lugar ao balcão que me pertença. Naquele horário em que algumas cabeças já teriam ido embora, todos já teriam suas febres de final de semana amenizadas, ruminando os efeitos de suas cervejas com alguns power acordes. E então quando essas condições de temperatura e pressão se encontram, as pessoas começam a se abrir ao meio à volta. Elas já estariam ali tempo suficiente para se sentirem em casa, para saberem se o cara da mesa ao lado é um chato pendurado no celular ou um bêbado inconveniente, já trocaram as fofocas pendentes com seus amigos, então já são estimuladas pelo próximo causo que a náitchi pode trazer.
E então começam a conversar com estranhos. 
E é nesse momento que eu gostaria de existir, quando o estranho é promovido à novidade, as pessoas bebem socialmente e sorriem, contam suas boas histórias, falam dos bons shows que viram, das cidades que nasceram, são simpáticas e educadas, etilicamente receptivas, vão contar algum drama circunstancial de sua vida, como se aquilo guardasse uma grande chave de iluminação, vão cantar uma música em coro, vão concordar sobre algum filme. Mas o mais importante, o mais mágico, é que vão se ouvir, vão prestar atenção de verdade naquilo que o outro está falando, naquela fração de turno, estarão verdadeiramente receptivas àquele universo de circustâncias que segura o copo ao lado.
E talvez por isso, naquele momento, se sorriem como amigos de verdade. 

sábado, abril 27, 2013

Mediatriz

Em 1976, o físico David Bohm e o psiquiatra David Shainberg se juntaram em Brockwood Park com J.Krishamurti, uma figura um pouco difícil de ser definida. Foi filósofo, pensador, escritor e palestrante. Ali, eles teceram diálogos riquíssimos sobre a transformação do homem, em que o pensamento ocidental se encontra com a filosofia oriental. Por sorte, todos esses diálogos estão disponíveis no youtube, em vídeos separados. O primeiro que vejo (sim, verei todos os outros) segue abaixo, com quase uma hora de duração. Recomendo muita atenção. Ainda que seja necessário vê-lo aos pouquinhos, quando conseguir de fato parar 15 minutos para se concentrar. O que ajuda, dando tempo após cada trecho para meditar e refletir sobre o que foi dito. Pessoalmente, confesso que em vários momentos, preciso pausar a conversa e digerir o que acabei de ouvir.
Boa viagem:
 

sexta-feira, abril 19, 2013

Sobre exorcismo e natais passados

Sendo alta, tendo voz cheia e alguns kimonos no armário, ninguém acredita muito, mas é fato: por dentro, sou feita de nada, um pastel de banana; praticamente uma ostra, dura por fora, molusco por dentro, e de vez em quando, produzo alguma pérola. Quem convive comigo um pouquinho mais saca isso fãcil, não precisa de muito. Basta um acorde de sensível sustentada um pouquinho mais, uma singeleza quase inconfessa, uma notícia triste que minha vista fica turva, minha voz desanda. E nem tenho cara-de-pau de falar que cairam ciscos nos meus olhos...
Pessoalmente, até eu me canso desse mimimi todo, dessa dependência crônica de rímel à prova d´água e lenço de bolso. Sério, odeio ser assaltada por este reflexo sensível, capaz de me pegar sem o menor aviso motivo. Tento, mas não consigo puxar a frieza dentro de mim diante de certas coisas. Eu já conheci fãs de comédias românticas que conseguiam fazer com que eu parecesse uma menininha de tranças cujo sonho é ser Miss alguma coisa. Vai ver eu sou. Só não sonho em ser miss-alguma-coisa, modelo de alguma fragância da Carolina Herrera, sim. Mas esta explicação não me satisfa, é muito curta. Em parte porque raramente tranço meus cabelos, só fui uma menininha por um período curto da minha vida, mas sobretudo porque ser modelo de 212 Sexy é uma carreira, não um sonho enlatado preso a um livro que todo mundo adora citar mas ninguém lê. A teoria que mais se fortalece comigo é que tudo não passe de história; melhor, histórico, uma grande barragem dentro de mim, litros de água represados que nunca desceram maçãs abaixo, luxos que eu, com meus kimonos, meus filmes de máfia e minha habilidade de trocar lâmpadas, me neguei.
E quem sabe a saída disso tudo seja um pouco de terrorismo, inundar a cidade. Pegar um dia (ok, mais de um) e fazer um retiro, me trancar no meu quarto, munida do álbum 21 da Adele, alguma coletânea com árias das mortes das heroínas das óperas italianas, boas traduções de Hamlet e Édipo Rei, DVDs de A cor púrpura, A lista de Schindler e Amistad, e sem nenhum, nem ao menos um, apoio, nenhuma caixa de bombom, nenhum pote de sorvete, nenhum vinho, nenhuma pipoca doce. Para os momentos de fome, eu contaria apenas com as propriedades frugais de  torrada de pão dormido e água, o que penso serem elementos auxiliadores no processo. E então, tudo que fora edificado em cada vez que meu sorvete caiu no chão, que meu balão estourou, que passei na frente de uma pet-shop pedindo o filhotinho e minha mãe disse não, que fechei a porta em cima do dedo, que meu irmão me falou que eu era feia e que nunca ia arranjar namorado, que o merthiolate doeu (sou velha assim), que eu senti saudades, que eu estudei mas não aprendi matemática, às vezes que senti falta de um abraço, que me senti pequena e frustrada, que meus joelhos doeram e eu não soube o que era, todas as vezes que não abri meu sorriso porque os dentes eram feios, os dias em que acordei e meu cabelo não me ajudou, que no espelho só havia uma mulher inadequada e feia, que o mundo me negou sua compreensão, que eu guardei pra mim minha clareza, que o telefone não tocou, que eu mesma fui a enfermeira da minha própria gripe, que acharam que eu poderia dar mais do que a própria vida não foi capaz, que as cebolas foram mais ardidas à lâmina do que se esperava, que eu fiquei na minha sala de estar sozinha com o nó na garganta, que o outro não foi justo comigo, que meus cachorros se despediram de mim, que as oportunidades não dariam jamais conta da minha gana e da minha ambição, que nem ao menos uma explicação me concederam, em que eu atingi o ápice do Everest e não havia ninguém para me dar parabéns, que esperavam que eu ainda agradecesse por receber toda a raiva que o mundo gerou e que foi mirada no meu peito; iria correr livre pelas planícies. E então, entregue neste transe retroativo, nesta imersão de natais passados, neste exorcismo de todos os fantasmas, neste plano de supervilão acontecendo, eu faria com que tudo isso seja lavado em lágrimas que, de tanto correr, chegam até o chão, devolvidas ao mundo como que sacrificadas, em agradecimento de tudo que aprendi e me fortaleci.
E aí, seca, exausta, de espírito nu, eu me encontre naquele ponto do qual os gurus falam, em que guardamos todos os ensinamentos da vida dentro de nós ao lado da nossa pureza pueril, da nossa criança interior, do olhar singelo diante de tudo, e tudo igualmente ao alcance da mão. Eu sairia do meu quarto cheia de memórias e absolutamente desprovida de cicatrizes, como um nascimento, só que desta vez, um pouco melhor equipada para a vida. Notem, equipada, jamais armada.
E aí eu comece a não mais chorar indefesa e vergonhsamente ao ver um boxer na rua, ao ouvir "What a wonderful world", ao assistir o final de Billy Elliot, ao estudar "Vissi d´arte", ao falar do que não foi, ao contar a sinopse de La Traviata, ao ler Shakespeare, ao lembrar dos adeuses que dei e dos beijos que me faltaram, aos afagos que não concedi.
Parece fácil, né? Logicamente que não. Torradas secas e triste eu encontre em qualquer lugar, o garrafão de água vem com 20 litros, e todo o material deprê-cultural que me falta pode ser entregue em casa. Mas precisa de algo mais do que isso. Requer coragem, e um senso inexplicável e resiliente; a mesma coisa que faz as águias voarem para os picos mais altos e arrancarem os bicos e as garras, para saírem de lá prontas para viverem ainda mais. Sério, como entender esse instinto destrutivo que nos leva à vida?
Enfim, ainda não encontrei o caminho para isto. Então, enquanto eu não faço isso, se é que vou fazer, eu me vou lidando com isso da mesma maneira que todo mundo, vai se equipadando para fazer com que a represa produza alguma energia no nosso dia a dia.

terça-feira, abril 09, 2013

"Mulheres:

"...gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura." Charles Bukowski.

quarta-feira, março 20, 2013

Sobre morto e catolicismo

Hugo Chavez morreu. Com certeza ficaram sabendo, senão pela notícia, por todo o tipo de piadas que fizeram, ou então pela capa da Veja com uma imagem muito próxima a qual Satã colocaria em sua foto de perfil do Facebook. Bom, se a Veja o aponta como o avatar do Capiroto, tudo indica que foi um grande homem e trouxe alguma contribuição significativa - e sobretudo boa - ao seu tempo. Mas devo dizer que tal destaque da semana não operou sobre minha opinião quanto ao falecido presidente. Não, não quero me fazer de descolada e mega-politizada, mas já há algum tempo que passei a filtrar bem a imagem que se pintava dele. A data não tenho precisa, mas eu lembro quando foi. Chato-pai é uma das maiores fontes que tenho para compor minhas opiniões. Não, não concordo com absolutamente tudo que ele diz, mas se ele tem uma especialidade, uma habilidade incrível, um dom jedi é o de trazer uma outra perspectiva sobre a maior parte das coisas das quais se escuta opiniões enlatadas. Vejam essa: uma vez conversávamos sobre a Revolução Cubana e seus líderes, perguntei se ele a favor do Fidel, mesmo com sua ditadura.
- Sim! Porque foi o início de um regime autônomo, sem a interferência dos EUA, sem o Imperialismo. É lógico que há de se ter problemas e polêmicas, mas isso também precisa acontecer para que se chegue a uma maturidade política. Por que você acha que a Mídia fala tão mal do Chavez?
Quando meu pai diz certas coisas, eu quase consigo ouvir um barulhinho dentro da cabeça, tipo assim. Sim, eu tinha muita pinimba com a turma de líderes latino-americanos, torcia o nariz para cada camisa do Che que via,  mas elas caíram por terra, todas, ali, naquele momento.
Quando Chávez faleceu, eu já sabia que havia mais motivos para luto do que para festa, e o grande e célebre responsório de notícia semanal do Brasil (com ironia, por favor) reforçou minha tese. Lógico que há aqueles que gostam de fazer uma oposição com ares mais ponderados que dizem "ah, mas ele não era nenhum santo". E é basicamente esta afirmação que me poe mais a refletir. Primeiramente, a gente se pergunta se algum político pode ser santo; se é este o rótulo que uma pessoa deve receber, talvez o lugar dela não seja bem à presidência de um país, ou em qualquer cargo de chefia. Curioso mesmo é pensar que há gente que espera encontrar um santo num comando. Até por que, ou bem você comanda ou bem você faz marketing pessoal de boa praça. E então eu começo a me perguntar por quê, como, onde e quando alguém espera encontrar um santo. Santos não existem, santos não fazem nada, ninguém nasce ou vive santo. Aliás, os santos que existem só chegaram a esta condição - ou status - depois de mortos, e muito mortos. E ninguém é mero mortal morto e vira santo. Precisa-se antes virar beato, que é outra coisa que, por si só, leva tempo. Depois de muito rolar de água, alguns poucos conseguem o estrelado santificado, mas só muito depois, depois quando ninguém mais lembra seu rosto direito, se você cutucava o nariz, se tinha paciência com o vizinho, se amarrava bem o saco de lixo pro gari não ter problemas na hora da coleta, se desperdiçava água ou se conversava alto debaixo da janela dos outros tarde da noite. Pessoalmente, eu creio que haja aí um elemento de sorte, existe um certo ponto da vida do qual você não pode avançar, morrer, e não muito tarde, é de vital importância para o processo. E para fundamentar isso, eu posso lançar mão das palavras de um grande homem, "ou você morre herói ou vive o suficiente para virar vilão". Harvey Dent sabia das coisas, ninguém chega à promotoria de uma cidade de Gotham desprovido de sagacidade. E, bom, heróis, santos, convenhamos, a diferença é pouca, se de fato há.
Citando outro sábio, cujo nome a postagem no Facebook não menciona, "se um dia te chamarem de ninguém, fique feliz, ninguém é perfeito"; eu tomo as palavras e levo para outro lado. Se reclamam de você é porque você é alguém.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Todos os dias teço mentalmente,
Poesias tão finas
Que as teias do verbo não conseguem peneirar.